O CD “Gente & Terras Geraes” eu gravei em 2001.

 

O primeiro culpado foi o amigo Luiz Chaves, artista plástico, que um dia me perguntou: “Por que você não grava um CD com suas músicas?

E acrescentou “A Prefeitura de BH tem uma Lei de Incentivo à Cultura. Use-a”.

Argumentei que as minhas músicas não eram lá grande coisa.

E ele contra-argumentou, se eu fosse me espelhar em Da Vinci, Monet ou Modigliani, eu não seria pintor ou tapeceiro. Cada um faz a arte dentro das suas limitações e possibilidades. 

E o Luiz Chaves, há mais de 50 anos, vive exclusivamente da sua arte, pintando os seus quadros, tecendo os seus tapetes, dando aulas no SESIMINAS-BH, sem nenhum emprego público, um teta nos governos ou mecenas.

E criou a sua bela família, três lindas filhas que lhe deram seis netos.

 

Enfim, aposentado, à toa, fiz um projeto.

Mandei-o para a Secretaria de Cultura de BH. Foi aprovado.

O incentivo do projeto era de 60% do custo final, os outros 40% eu teria que bancar.

Foi o que eu fiz.

Contratei o grande produtor, arranjador e músico, o Maestro Geraldo Vianna para coordenar e executar o projeto.

Ele já produziu inúmeros CDs e Shows, contratou os músicos e os cantores.

Ele contatou e contratou todos os músicos e cantores.

 

Eu não queria cantar ou participar das gravações.

Mas por imposição da Lourdes, minha esposa, com o argumento que “o CD é seu, você não pode ficar de fora”.

Mulher manda, pelo menos, aqui em casa.

 

E eu acabei cantando dois pequenos trechos na faixa 5 (Amigos e Madrugadas) e na faixa 9 (Zé Manga-Rosa). E tocando violão na faixa 10 (Lavrador). Na faixa 6 (Fuga, fugaz), participei do coro junto com a Lourdes, minha filha Thaís, Zezé Vieira (minha irmã) e Mariana Santiago Chaves (filha do Luiz Chaves). Um nepotismo musical. Isto foi ideia do Maestro e Arranjador Geraldo Vianna. Ele entendeu que esta música poderia ter um coro na repetição da canção. Ele se encarregou de colocar essa gente para cantar.

 

Em janeiro/fevereiro de 2001 gravamos o CD no estúdio BEMOL.

 

O Projeto Gráfico foi feito pelo Amigo e Poeta Marcus Cremonese.

 

Na época ele era “Head Graphic Designer” Faculdade de Medicina da University of New South Wales, Sydney/Austrália.

 

Neste link eu conto um pouco a história. As trocas de e-mails, ideias, pingas e rapaduras. http://www.devieira.com.br/projeto_grafico.htm.

 

Ficou muito chique o trabalho do Marquim.

 

Em 2004, após três anos da concretização do CD, depois de beber umas e outras, mandei um e-mail para o Marquim (re)agradecendo a sua arte.

 

Transcrevo trechos, a seguir:

 

Ontem, à noite, peguei o ENCARTE do CD e fiquei lendo, relendo.

Acariciando a cria e agradecendo a DEUS pela sua amizade.

Admirando a sua obra de arte.

O seu trabalho deu roupa de gala às minhas músicas simplesinhas.

Você caprichou em cada mínimo detalhe.

Tive muita sorte em contar com o seu talento na criação do trabalho gráfico.

Quem no mundo, qual designer, teria uma foto singular do Tuniquim?

Quem poderia ter os malucos-beleza de São João del Rei?

E a Igrejinha São José com a lua ao fundo?

E ainda fraseando:

"Há muito adotei o mundo como terreiro de casa: 

A lua que mora lá é a mesma que vive aqui...".

Quem?

E o carro de bois na Cachoeira? Onde encontrar?

As paredes de pau a pique, como fundo, emoldurando as páginas, sustentando as letras das minhas músicas.

O caboclo, o negro, o cafuzo, o mameluco, em plena folia, num dia qualquer dessa nossa pródiga Minas de ROSA e Drummond?

Onde você descobriu aquela casinha, quase, esquecida no caminho, com uma pequenina cruz à porta, sinal de fé, luto e respeito?

E poetizando "Vó Elisa: mãos mágicas trazendo vidas...".

Quem poderia rebordar o mapa de Minas com fronteira de ouro?

Colocar o casario com lampião, numa cidade inconfidente coberta de névoa. Quem?

Só mesmo você com a sua genialidade de poeta e artesão das formas e cores.

Por tudo isso e mais, obrigado Marquim!

Obrigado meu SENHOR DEUS por sua existência e amizade.

 

Agora, vinte e dois anos depois, os CDs gravados e produzidos, em 2001, estão esgotando. Estava quase precisando “piratear” o meu CD para presentear os novos amigos que vão surgindo ao longo da nossa vida.

 

Decidi fazer uma nova fornada de CDs.

E para baratear os custos, não mandei fazer um CD com Box Acrílico e um Encarte contendo um livreto com 20 páginas.

Optei por uma coisa mais simples.

 

Um CD Envelope duplo com um Encarte (12 cm x 48 cm)

 

Assim, fiz uma nova CAPA. Aproveitei para colocar algumas das pessoas que são cantadas e homenageadas nas músicas. Imagens que encontrei mais recentemente.

Tem ao fundo, as Serras Guidovalenses que envolvem a cidade, o carnavalesco Tilúcio (Raymundo Francisco), o Professor Ibsen Francisco de Sales (Salim), a Igreja Matriz de Santana, a parteira Vó Elisa, o fumeiro Tuniquim, um grupo fazendo serenata, o Canarinho (Antônio Teixeira das Graças), vítima de um atropelamento na flor dos seus vinte anos, uns carnavalescos, fantasiados, no início dos anos 50, dentre eles o Zé Manga Rosa (marceneiro, violeiro, peregrino) e Zé Bento (benzedor e ferrador de cavalos), o Rio Chopotó, o meu parceiro musical Renatinho (Renato Moreira da Silva, também era conhecido por Delegado). Ao centro, uma frase, um aforismo que criei em 2006 quando escrevi um artigo para o Jornal de Guidoval.

 

Guidovalense não parte. Reparte!
Uma parte fica. Outra parte, parte!

 

No ENCARTE, coloquei as letras das músicas, nomes dos músicos, dos cantores e as faixas em que eles participaram. Inseri a foto do saudoso Amigo Renatinho parceiro na música “Canção do Guidovalense Ausente”. Adicionei uma foto de 1981 da Turma da Rua Santa Cruz, inspiração para “Amigos e Madrugadas”. Dentre eles o líder Wilton Franco a quem dediquei a música “in memorian”.

 

 

Inclui um link para o Site do CD e o QR Code.

 

Site: https://shre.ink/kJlo

 

 

E quando estava concluindo o encarte vi que tinha sobrando algum espaço.

Poderia preenchê-lo com algumas abobrinhas, mas como já tenho um SITE com todas as informações sobre o CD, ocorreu-me a ideia “Por que não colocar uma foto do meu neto Matheus?

No dia 08 de junho de 2023 ele completará um ano de idade, data que coincidirá com a celebração de Corpus Christi. E neto é uma Bênção Divina.

Não podia imaginar que gostaria tanto, mas tanto mesmo, de uma pessoinha que conheço faz menos de um ano.

Aí, aproveitei o espaço que restava no encarte e completei com fotos do Matheus, Thaís (mãe do Matheus), Luís Fernando (pai do Matheus) e Lourdes (avó do Matheus).

Não sei se explica ou justifica. Acontece que gostei do resultado. Meu neto no meu CD.

 

Ildefonso Dé Vieira

Belo Horizonte, 02 de junho de 2023

 

ADENDOS:

 

CD no Spotify: https://open.spotify.com/intl-pt/album/41PdBIxKT63IhE6lQNMJWz

 

CD no iTunes: https://music.apple.com/us/album/gente-terras-geraes/1461244218

 

Link (Áudios e Vídeos das músicas): http://www.devieira.com.br/frame_musicas.htm

 

OUTRAS EXPLICAÇÕES DESNECESSÁRIAS

 

Talvez, o maior culpado por eu ter essa mania de fazer música foi o Festival Ubaense de Música Popular (FUMP). Em 1973 inscrevi três músicas no IV FUMP. E todas as três foram selecionadas para serem apresentadas. Uma ficou para a final que foi gravada pela TV Itacolomi de BH para posterior transmissão.

 

Em 1975, em São João Del Rei, tive a felicidade de ser parceiro do sambista e amigo Chacal na música “Quiumbandão”, tema enredo da “Escola de Samba Falem de Mim”. E neste ano ela terminou empatada com a insuperável “Qualquer Nome Serve” comandada pelo dramaturgo, ator, escritor, médico e Professor Jota Dangelo. Um feito, uma façanha.

 

Sabendo deste fato, Raymundo Francisco (Tilúcio) o maior carnavalesco de Guidoval, me pediu para fazer um samba para a sua Escola Calouros do Samba.

Aceitei a incumbência.

 

E tomando por base que as escolas de Samba do Rio de Janeiro tinham por princípio fazer enredos falando da história do Brasil, me propus, intimamente, só escrever letras que falassem de assuntos relacionados a Guidoval e suas personalidades.

Assim, em 1976, fiz o samba “Henriquinho (in memorian)”, um tamborinista da Calouros.

No ano seguinte, 1977, fiz o samba “Domingos” em homenagem a Domingos Coelho da Silva, que foi o precursor da “Calouros”. Ele criou a “Cacique de Bronze”. Depois vendeu a escola ao Tilúcio. Vender é o modo de dizer. Na realidade ele vendeu foram uns surdos, taróis, repinique e tamborins.

Em 1978, fiz o samba “Tilúcio”.

Em 1979 denunciei a poluição do Rio Chopotó e compus “Salve, ó Chopotó! Salvem o Chopotó”.

Em 1980, foi a vez de homenagear o nosso fundador com “Guido, este vale é teu”.

Em 1981, o samba exaltava a parteira Vó Elisa e pedia um nome de rua para ela. O samba levou o nome de “Vó Elisa, nossas ruas - nossa história”.

E em 1982, encerrei a minha participação com “Vestígios e Falência de nossas Festas, Cultura e Tradições”. 

 

Uma pequena explicação sobre as 13 músicas

 

01 - Canção do Guidovalense Ausente

É de autoria do saudoso amigo Renato Moreira da Silva (Delegado), professor, economista, jornalista. Meti o bedelho na música dele e acrescentei umas quadras, acordes e versos, e nos tornamos parceiros. É o êxodo da cidade do interior em busca de oportunidades e futuro decente em metrópoles como Belo Horizonte que a todos acolhe com desvelo e carinho de mais guardar, mineiros ou não, irmãos daqui, dali e dalém mar.

02 - Tereza do "Custa-Mais-Vai"

É em homenagem a empregada doméstica que trabalhava na nossa República em São João Del Rei.

03 - Destinos

É uma música romântica ou quase isso. Muitos dizem que é a mais comercial.

04 - São João (dos queijos) del Rey

É um mosaico de vários ícones da cidade que me acolheu com tanta hospitalidade, onde fiz amigos para uma vida inteira.

05 - Amigos e Madrugadas

Esta música é lembrando os amigos de serenatas em Guidoval. No CD dediquei “In Memorian” ao amigo Dr. Wilton Franco que faleceu muito jovem.

06 - Fuga, fugaz

É um sambinha. E samba não precisa de explicação. O coro, que canta a segunda parte, é composto pela minha esposa, filha, irmã e a filha do meu amigo artista plástico Luiz Chaves.

 

07 – Descaminhos

Música que fiz para um Festival em São João Del Rei, mas não foi bem sucedida. Tenho muitos amigos que gostam dela.

08 - Forrobodó do Salim

O Professor Ibsen Francisco de Sales, apelido SALIM, foi um memorável Professor de Português em Guidoval.

Era alcoólatra. Fundou a AA em Guidoval e parou de beber. Nas nossas rodadas de cervejas e boemias nos bares da cidade recitava poemas, poesias e cantava uma música “forrobodó, na casa da sua avó”. Tudo com rima terminada em “ó”. Em homenagem a ele fiz esta música.

09 - Zé Manga-Rosa

Era marceneiro, boêmio, andarilho, alcoólatra. Ensinou-me algumas coisas no violão.

Morreu na cidade vizinha de Visconde do Rio Branco e foi enterrado com indigente. A família resgatou o seu corpo e o enterrou em Guidoval.

10 - Lavrador

Nasci na roça. Na região do Ubazinho, Córrego do Rosa. Meus avós eram pequenos fazendeiros. Formei-me em Técnico Agrícola. É uma homenagem a este bravo trabalhador.

11 – Canarinho

Antônio Teixeira das Graças era de Tocantins. Muito loiro, quase um albino, ganhou o apelido de Canarinho no Colégio Agrícola de Rio Pomba, onde estudamos por sete anos (1965 a 1971). Morreu atropelado, em 26/04/1971, no último ano do curso na estrada de acesso ao Colégio.

Em 1979, o Professor de Educação Física, Geraldo Magela (Calado) Paschoalino lecionava no Ginásio Guido Marlière em Guidoval. E fez um pedido a minha irmã, Sueli Vieira Gomes, para fazer uma música para Escola de Samba de Tocantins, sua cidade natal. O tema era livre.

Escolhi homenagear o amigo e colega Canarinho. No samba tento lhe contar, um pouco, como andava o Brasil após oito anos da sua morte.

12 – Tuniquim

Trabalhador braçal, era especialista na confecção artesanal do fumo de rolo. Mesmo laborando numa atividade que facilmente suja as roupas, andava limpo e engomado, cuidados especiais de sua dedicada esposa, a D. Maricota. Enquanto viveu, o preto Tuniquim, cabelos grisalhos e face sorridente, alegrou várias gerações de crianças da Rua do Campo (Padre Baião). Quando cruzava com a meninada dava vazão e razão à canção folclórica e popular entoada pela molecada: 

"Seu Tuniquim... quim... quim.../Da perna torta... tá... tá.../

Que se casou... zô... zô.../Com a maricota... tá... tá... "

Trabalhou para o José Vieira/Dona Clotilde, pais do Cid Augusto Vieira.

Esta música fez sucesso num Festival de Música em São João Del Rei, segundo o famoso “Jornal do Poste”.

13 - Calouros do Samba

Pot-pourri de alguns sambas que fiz para a Escola de Samba “Calouros do Samba” de 1976 a 1982. Sempre falando de coisas, gente, pessoas, personagens da cidade.