Conto o milagre, mas não o santo. Um conterrâneo é tão pão-duro que perto dele munheca-de-samambaia parece girassol da Rússia.
Algumas cenas eu vi, outras me contaram. Para se ter uma idéia, ele coloca a pasta de dente atravessada, na vertical na escova. Não come banana para não jogar a casca fora. Espirra sem estar gripado só para que alguém lhe diga "Deus te ajude". Dispensa velório para não gastar lágrimas.
Assiste a missa pela televisão, na casa do genro para economizar energia elétrica. Na hora do ofertório, sai de fininho, vai a cozinha beber, de graça; água e cafezinho.
O Grilo do Zé Bento criou um capado a meia com ele. Só engordou a banda do nosso miserável concidadão.
Se você o vir, se é que já reconheceu de quem estou falando; pulando de um prédio do 20°andar, pule atrás e estarás fazendo um bom negócio.
Na inauguração do Meia-Meia, havia acabado de filar um sonrisal do Vianelo, quando o jogaram na piscina. Não fez nem borbulha, saiu com o comprimido espremido, intacto; na mão esquerda.
Certa vez, foi ao Vasco (Reis) da Farmácia e pediu um analgésico para dor de cabeça. Ia pagar a metade e se dor passasse, voltaria para pagar o restante. O Vasco, um emérito gozador; pegou o comprimido, partiu ao meio, guardou a metade e falou para o nosso avarento :
- Volte depois para pegar e pagar o restante. Nessa, o sovina não se deu bem.
Para encerrar. Um dia um garoto da roça, perguntou-lhe as horas. Ele já achou um desaforo, ter que dar as horas. A contragosto, retirou do bolso, o oméga ferradura. Com rabugice, sem pressa, olhou de meia-jota, sem interesse, falou :
- Quatro horas.
O menino agradeceu e seguiu caminho. Na verdade, registrava-se 16 horas e 14 minutos.
Chico do Felício que estava ao lado comentou:
- O homem é danado. Economiza até os quebrados da hora.