UMA FOTO EM BUSCA DE IDENTIDADE

 

        

Das boas recordações com que a vida nos presenteia, é na infância que acontecem a maioria delas. Nem poderia ser diferente. Não há prestações a pagar, aluguel ou cheque especial vencido, reumatismo a combater, colesterol para controlar, coronárias entupidas, problemas normais dos adultos.

 

         Na infância, o mundo é uma bola, de futebol, de gude. Gira e rodopia como uma pipa, um pião, um cata-vento. A vida corre com exuberância como corria o Xopotó repleto de mandis, dourados, lambaris e bocarras. A vida amadurece em jabuticabeiras, laranjais e pés de manga, principalmente dos vizinhos, sujeitos a pequenos furtos que não corrompem o caráter e não comprometem a dignidade.

        

É por esta época que conhecemos os primeiros amigos, muitos deles preservados pelo resto de nossas vidas. Observamos, sem imaginar, quem sabe a primeira namorada, ou ainda as futuras esposas de nossos amigos. Aprendemos as primeiras letras. Começamos a rabiscar, desenhar, registrar e dar forma ao nosso futuro.

 

         Assim, quando vejo uma fotografia antiga, sirvo-me dela como se fora uma máquina do tempo. Retorno sem constrangimento ao passado. Busco e rebusco os bons momentos. Reabasteço o meu poço de saudade.

 

         Tudo isso me veio à mente, outro dia, ao receber de presente uma fotografia. Nela estão perfilados à porta da Igreja Matriz de SANTANA, alunos do 2º ano do Grupo Escolar Mariana de Paiva e que depois foram estudar no Grupo Escolar Cel. Joaquim Martins, acompanhando a inesquecível professora Élvia Reis de Andrade, a quem reverencio, rendo a minha gratidão eterna e dedico este artigo.

 

         Fui identificando num canto e noutro, acima e abaixo, um amigo ou amiga. Reconheci e recordei-me de vários. Muitos, entretanto, refugiaram-se num canto remoto da memória e não consegui resgatá-los. A estes, de imediato, peço perdão pela falha imperdoável.

 

         Na fotografia, vi, vivi, revi e revivi os meus primeiros companheiros, como o Roberto Vieira do Geraldo Didu. Amigo de ontem, amanhã e sempre, de prosas, serenatas e confidências. Amigo de fé. Nossos saudosos pais foram amigos. Minha filha Thaís e o seu filho Leandro dão continuidade a estes laços de respeito e admiração.

 

         Fiz uma prece ao saudoso José Oscar do Vicente Matos, o Zé Xereta, que nunca prejudicou ninguém com a sua bisbilhotice infantil. De tão bom, DEUS chamou-o mais cedo para a Sua companhia.

 

         À minha lembrança, surgiu a Maria da Paz de Oliveira, da Várzea Alegre, tímida, quieta, dona de uma fulgurante inteligência.

 

         Muitos dos meus amigos casaram com as meninas da turma. O Gonzaga do Isaías Geraldo com a Rosália do Paulo Ramos, o Elísio do Edson Andrade com a Fatinha do Tuninho Estulano, o Sebastião da Padaria com a Heloísa do Eduardo Occhi, o Zé Ângelo Camargo da D. Mafisa com a Cleusa do Chiquito Oliveira.

 

         Revejo a minha primeira namorada Diana, filha do Sô Adão Nogueira, um grande conhecedor da história e "causos" de Guidoval. Hoje a Diana mora nos EUA, bem sucedida, casada, com filhos. Reencontramos-nos nesta última Festa de SANTANA.

 

         Do meio rural, lembrei-me do Jorge Gomes Pereira, extrovertido, falastrão, bem humorado; do Pedro Teodoro Pereira, baixinho, destemido, briguento; do Zé Luiz de Freitas Maciel, magrelo, tímido, educado e ainda do Getúlio do Sôtão, excelente em matemática. Torcíamos pelo PSD, o mesmo partido político de nossos pais.

 

         O convívio saudável estendeu-se além dos limites do grupo escolar, prolongando-se em peraltices e travessuras próprias da idade, nas ruas empoeiradas da cidade, nas águas "não poluídas" da Cachoeira e do Joca (Ponte do Guarani), nas gramas do Campo do Bambu (Vai-quem-quer) ou do Cruzeiro ou no campinho do Jaburu (quintal do Pedro Vieira). Localizo a turma de "peladas", Ângelo do Casin, Francisco do Zé Matias, Dé do Ferreirinha, o Jorge da D. Arlete Avidago, o Luiz Fernando do Levindo Albino, o Nélio do Sô Gil Queiroga, este o melhor de bola da turma.

 

         Avisto, a um canto da fotografia, o primo Paulinho da Aparecida do Benjamin que me acertou, sem aviso prévio, um soco no olho esquerdo, deixando-o roxo e eu vendo estrelas e pirilampos. O tempo retirou a mancha, a nódoa, o ressentimento. Somos bons amigos, pena que nos encontremos tão pouco.

 

         Na parte de baixo da foto, reconheço a Vera Lúcia do Paulo Queiroz, loira, bela e inteligente. A família mudou-se para Ubá e nunca mais a vi. Relembro que num 13 de maio interpretei um escravo, maquiado a carvão, e ela, a Princesa Isabel. No meio da foto, vejo a Maria Inês do Wallace Azevedo. Continua tão bonita quanto em criança.

 

         Destacam-se na fotografia e me pergunto onde andam a Isaura Maciel, filha do Ninísio (Leão) Maciel, a Rita de Cássia do Neném Barros, a Rita de Cássia do Nely e Sazina, a Maria do Carmo do Zuzu Matos?

 

         Distingo a Sandra, sempre sorridente. Fui o seu par numa festa junina. Ela faceira, bonita e alegre, não me tolerou como desengonçado parceiro. Sempre fui um péssimo dançarino. Tentando me motivar, insistia em dizer-me: Dança Dé! Dança Dé! Esta frase depois virou um bordão, sempre repetido pelo seu pai quando me encontrava. Falo do saudoso Oswaldo Occhi, um grande amigo de meu pai.

 

         Para concluir, renovo, rogo e reforço aos amigos e colegas que não foram mencionados as minhas sinceras desculpas e solicito humildemente a absolvição.

 

         Aproveito para convidar a todos os ex-alunos da querida mestra ÉLVIA REIS DE ANDRADE para um REENCONTRO na Escola Estadual Cel. Joaquim Martins a se realizar no dia 26 de janeiro de 2008. Aguardo manifestações.