Utópico Lavrar  (05/11/81)

 

A terra me basta,

abasta o meu viver,

calar me agasta,

cantar só dá prazer.

 

Planto esmeraldas,

canaviais de esperança,

adoço serras nas fraldas,

desfio fumo em tranças.

 

Mel de abelhas,

centelhas divinas,

pastorear ovelhas.

galgar virgens colinas.

 

Cacheiam espigas de milho,

pendulam loiros arrozais,

reflete no campo o brilho,

incomum perfume de paz.

 

Lavro e risco este solo,

com calos de meu suor,

a rolar corpo-face-colo,

trabalho que me faz melhor.

 

Quando desponta a lua,

prece brota na minha boca,

abraço você toda nua,

acaricio tua voz tão rouca.

 

Eu quero você morena,

vadiando no caminho,

se a touceira for pequena,

busco mais pro nosso ninho.