Relendo os jornais Guidovalenses

 

    Sexta-feira, 31/03/95, início de noite, recebo numa correspondência, vários exemplares do Jornal Saca-Rolha. Leio-o de imediato e só posso fazer um comentário:

Excelente. Parabéns Renatinho.

 

    Volto ao tempo. Dias atrás, recebo um telefonema do Renatinho, falando do retorno do Jornal Saca-Rolha às ruas, à boca do povo, à luta prá sobreviver.

    Reclamando, como sempre, das dificuldades de se fazer um jornal, em Guidoval, e neste caso específico, concordo que é verdade.

    Renatinho pediu a minha colaboração para divulgar o Jornal entre os Sapeenses residentes em BH e verificar a possibilidade de uma contribuição financeira.

    Não neguei em compartilhar dessa aventura, argumentei, entretanto, que “os tempos andam bicudos” e que não será tão fácil encontrar, aqui nesta Serra do Curral, aliados financeiros.

    Até porque, na maioria, não somos Comerciantes, Industriais, Empresários, Representantes Políticos ou Religiosos, Presidente de Clubes ou Associações Comunitárias, Diretores de Grupos, Ginásios ou Colégios, Gerentes de Bancos, participantes diretos na vida econômica do município. À frente, me explico melhor.

    Temos sim, laços afetivos, de valor imensurável, os nossos familiares, os melhores amigos, o primeiro amor, o primeiro beijo, lembranças eternas e ternas saudades da infância e juventude. E isto não preço.

    Voltando ao telefonema do Renatinho. Expus-lhe as dificuldades, mas lembrei de vários conterrâneos que nunca se omitiram quando o assunto é o progresso de Guidoval: Marcellus,  Bebeto e Betinho Ramos, Elísio e Edgar Andrade, Antônio Augusto, Gonzaga Geraldo, Ulisses do Roldão, Aulo Meireles, Zequinha da Caixa, Élvia, Doralice, Oscar do Casim, os meninos do José Geraldo (Eduardo e Arnaldo). É ficando véio, tratando jovens de meninos. E tantos outros guidovalenses, que eu ficaria a noite toda citando os meus amigos e conterrâneos. Era de noite o telefonema do Renatinho. E a conta telefônica sairia do Real.

 

Agora, à frente, tentando me explicar melhor.

    Um jornal é o contador da história de um povo, a caixa de ressonância de uma sociedade, reminiscências de um tempo, costumes e tradições.

    Um jornal é tão importante na vida de uma cidade que os guidovalenses residentes no município tem condições e até mesmo a obrigação de contribuir de forma efetiva para a sua existência. É participar da História da Cidade.

    É perpetuar-se na Memória dos filhos e netos. As gerações futuras saberão identificar os seus antepassados. Participativos ou omissos ?

    Só esta razão já seria o suficiente para que todos se envolvessem na existência de um jornal em sua comunidade. Existe um outro motivo. Na história de Guidoval, os grandes/pequenos surtos de prosperidade coincidiram com a existência de um jornal.

    O Hospital São Vicente de Paulo, você lerá no Jornal  Cidade de Guidoval” de 09/05/53, Ano I, N° 7. Creiam já existiu.

    A criação do Dia do Guidovalense, você encontra no Jornal “A Voz de Guidoval”, de 11/06/61, Ano I, N° 10, iniciativa que partiu do próprio jornal. Os prefeitos ficavam comprometidos a inaugurar, no mínimo um melhoramento no município, no dia 26 de julho, na nossa Festa de SANTANA.

    No Saca-Rolha de 30/09/77, Ano I, N° 14, o PAPEANDO reivindica o Asfalto, Colégio de 2° Grau e Quadra de Esportes.

Não tardou muito e as páginas do Saca-Rolha puderam registrar estas benfeitorias no município.

Coincidência ? Creio que não.

    Um Jornal livre, imparcial, coerente, apartidário, pluralista é o termômetro da vontade popular e político pode até não gostar de POVO, mas adora VOTO.

    Relendo O Sapé, Voz do Sapé, Cidade de Guidoval,  O Espião, A Voz de Guidoval, Marlière , colheremos informações de quem participou e participa da história do município.

 

O SAPÉ (Dezembro de 1.906 )

Diretor Proprietário : Belarmino Campos

 

     O Papa Pio X, aprova o atual movimento feminista, desde que ele não vá contra a moral cristã. (...)

     (...) Declarou ainda o Papa Pio X, que aceitava em princípio, o sufrágio universal, sem deixar de lhe parecer que em estados de inferior cultura, poderia apresentar certos perigos. (...)

     (...) Preocupava ainda a Sua Santidade : A Questão Operária, o Problema da Paz e o Movimento Contra Duelo (...) “

 

O SAPÉ (Janeiro de 1.907 )

 

     (...) Em um longo e bem feito artigo, criticava-se o Secretário do Interior do Governo, Dr. Carvalho de Brito, por dar apenas 15 dias para

que as crianças fossem matriculadas nas escolas para o próximo  ano letivo.  Menciona o fato de Inspetores Escolares trabalharem gratuitamente. (...) “

     (... ) A Professora Mariana A. De Paiva, comunicava a abertura de matrícula para moças de 6 a 14 anos em sua escola. (...) “

 

Voz do Sapé (Outubro de 1.938)

Diretor : Théophilo Braz Pereira

Redator : Aristides Rocha

 

    “(...) Tem guardado leito, um filhinho do Sr. Amaro Ramos, subdelegado de polícia nesta vila. (...)

    (...) No dia 2, nasceu, nesta vila, o menino João Carlos Arantes, robusto filhinho do Sr. Ignácio Castro Arantes e de sua Ex.ma. Esposa Nicolina Martins. (...) “

    Critica-se o uso e o exibicionismo de armas, revólveres, garruchas e facas.“

Critica-se ainda o vício de fumar e jogar. 

    Elogia-se a existência de Escolas para formação de caráter, a Educação Física, Moral e Intelectual 

 

 

Comentários sobre os Anúncios

 

    Nas páginas do O SAPÉ, encontramos comerciantes empreendedores que, no início do século já, acreditavam que “a propaganda é a alma do negócio”, o que eles não podiam sequer imaginar é que além dos frutos certamente colhidos à época, 89 anos depois, seriam lembrados por descendentes e conterrâneos e servir de exemplo para os nossos homens de negócios :

    A nossa homenagem à:

Padaria S. Pedro de Vicente Jorge

Pharmacia Cruz de Baptista  Cruz & Filho

Casa da Estrella de Siqueira & Filhos

Casa Commercial de Simões & Rocha

Officina de Selleiro de Barros & Alves

 

 

Comentários sobre as Notícias

 

    No início do século já se tinha preocupação com a Educação, o Movimento Feminista, a Paz Mundial, o Direito de Voto a todos os cidadãos, a Questão Operária, os vícios, o armamento da população.

 

    Situamos a época em que a Prof. Mariana de Paiva, vivia e dedicava à educação em nosso município. Qual o guidovalense que nunca ouviu falar o nome Mariana de Paiva ?

 

    Naquela época já se trabalhava de graça para a educação. Não mudou nada, as professoras continuam a receber uma miséria.

 

    Ficamos sabendo que o Sr. Amaro Ramos era subdelegado de polícia. O Papa, Pio X.

 

Aguardem outras releituras de jornais.

 

 

Cidade de Guidoval (09/05/53)

Diretor : Sebastião Cruz

Redator : Dr. Mário Meireles

 

    (...)  nasceu o Hospital São Vicente de Paulo. (...) Quantos ajudaram!  Uns deram madeiras, outros telhas e tijolos, este forneceu o transporte, aquele mandou material do ser ramo de comércio; e o obreiro pobre, que nada tinha para dar, ofertou o concurso dos seus músculos vigorosos e o suor abençoado de sua face. (...) o Dr. Mário Meireles foi o incentivador, o realizador, o pioneiro do grande ideal.(...) Parabéns, Dr. Mário Meireles(...) “

     (...) Estão com núpcias contratadas para 23 deste, o comerciante Antônio Rossi e a prendada senhorita Luzia Luiza de Jesus. (...) “

    (...) Há dias, esteve em Guarany, Sr. Dilermando Teixeira de Magalhães, que a interesse de nosso município, foi àquela cidade conhecer a máquina perfuratriz de poços artesianos e estudar a possibilidade de trazê-la a esta comuna (...) “

    (...) Fundação do Grêmio Literário Prof. Ernani Rodrigues : (...) Vice-Presidente ( José Geraldo ); Oradores ( Marlene Gonçalves, Laércio Cattete Reis, Vasco Cândido Reis ); Bibliotecário ( João Batista Geraldo); Procuradores ( Eliene Carvalho, Terezinha Geraldo ); Fiscais ( Manoel Avidago Cruz, Glória Vieira, Francisco Pinto de Aguiar ); Diretora Artística (Carmem Cattete Reis); Diretor Teatral (Farmacêutico Trajano Viana) (...) “

 

Cidade de Guidoval (23/05/53)

    Seguiu de avião para Belo Horizonte, O Sr. Dilermando Teixeira de Magalhães, Prefeito de Guidoval, que irá tratar de assuntos de interesse para a nossa cidade”

    “(...) EDITAL (...) Dr. Mário Geraldo Meireles, Presidente da Câmara Municipal de Guidoval (...) fica marcada a 2ª. Reunião (...)

    “(...) benemérito governador do Estado, Dr. Juscelino Kubitschek (...)

    (...) possuirmos ruas limpas, sem papeis sujos, sem casca de frutas, etc... (...)

 

    “(...) Publicado no Correio de Minas de Ouro Preto, de 2 de dezembro de 1.842 (..) um porco em pé 4$500(...); Farinha de Trigo, arroba 2$600; fubá, um alqueire $600 (...) Que tal acham os nossos eleitores esses preços em relação aos de hoje ?

    “(...) o Cruzeiro F.C. disputou uma partida amistosa com o Divinense F.C. (...) apesar de desfalcado de vários elementos que por indisciplina se acham “em férias”, conseguimos uma vitória de 4 X 3 (...)

     “(...) Ao center-four Antônio Euzébio Pereira (Toninho), pela sua disciplina e amor ao esporte de nossa terra, uma singela homenagem de Cidade de Guidoval. (...)

    Não perca, dia 3 de junho, no Cine Guidovalense o filme A Deusa da Floresta com Dorothy Lamour e Robert Preston

 

Inteligentes Anunciantes

Posto Esso de Elísio Avidago Cruz

Bar Faixa Azul de Sebastião Travassos Barbosa

Aguardem  Casa Cruz de Sebastião Cruz

Médico : Dr. Mário Geraldo Meireles

Alfaiataria Azevedo de José de Azevedo Costa

Bar do Ponto de Jonathas Magalhães

Casa Sampaio de Sampaio & Cia

A Barateira de Olynto Antunes Pereira

 

Comentários

 

    Nestes dois números identificamos o Prefeito da época, o Presidente da Câmara, o Governador do Estado, alguns dos nossos estudantes, os comerciantes e profissionais mais arrojados.

    O jeito de se locomover à capital do estado era de avião.

Criticava a sujeira das ruas. Problema antigo.

O abastecimento de água era um problema.

Tínhamos hospital e cinema.

A inflação já fazia parte do cotidiano.

    A Prefeitura, a Câmara Municipal ajudavam o jornal publicando editais, balanços, etc...

 

Em tempo:

Desde aquela época o Manoel, do saudoso Sr. Elísio, já treinava para ser fiscal.