Livro "Saudade Sapeense"

Sob a coordenação de Sueli Vieira Gomes, Maria de Lourdes Ribeiral Vieira e Ildefonso José Vieira foi editado o Livro "Saudade Sapeense" com poesias, poemas, contos e crônicas de guidovalenses.

O livro foi patrocinado pela prefeitura municipal de Guidoval durante a administração do prefeito José Vieira Neto.

A noite de autógrafos e lançamento do livro ocorreu em 23 de julho de 1.982 no Salão Paroquial da Matriz de SANTANA, durante as festividades do Dia do Guidovalense.

A prefeitura ofereceu aos escritores e a toda sociedade guidovalense um coquetel de confraternização que marcou para sempre a história cultural da pequena cidade da Zona da Mata Mineira.

Abaixo, uma amostra dos escritores presentes no livro.

Abílio Teodoro da Silva

VERSO ... REVERSO - página 19

"Quanto mais queimava-te a paixão
Que tentava murchar teus verdes anos, "

Antônio Augusto ( Brito ) Rossi

E, DEPOIS DA MORTE - página 24

" Mas, existe Deus ? Não pode haver um Deus que leva uma menininha de 7 anos no dia de seu aniversário ! É doloroso demais..."

Antônio José Barbosa Neto

A CACHOEIRA - página 16

"Quis esquecer mas n'alma existe ainda
Atroz saudade daquela tarde infinita
Em que baixinho me disse a cachoeira: "

Áureo Antunes Vieira

HINO DE GUIDOVAL - página 52

" Do Chopotó as águas serenas,
Banham amenas os arrozais, "

Carmem Cattete Reis Dornelas

HOMENAGEM a TRAJANO VIANA - página 51

" Brilha como estrela no firmamento !
Trajano, como o senhor soube viver ! "

Ibsen Francisco de Sales

CONSULTA - página 35

" - Calma, amigo Sufoca os teus gemidos.
Eu vou te receitar uns comprimidos :
HEXAMETILENOTETRAMINA."

Ildefonso José Vieira

MAGESTADE DE UM REI SEM REINO - página 18

"Obrigado Senhor,
Pelo ELO-IR de viver,
Conviver,
Mesmo sendo pequeno,
Com semelhante tão MÁXIMO."

Ilídio Amaro da Silva

FELICIDADE - página 31

" Oh ! Loucos que buscai de lança em riste,
Perene fonte de felicidade,
Desiste deste intento que é bem triste,
A luta do homem contra a adversidade."

João Agnelo da Silva

OLHANDO O PASSADO - página 22

"Ao ver a minha nau quase partida,
Quebrando arestas pelo mar da vida
Quase atingindo o litoral da Morte."

José Geraldo

A PAZ - página 29

"AQUI JAZ O ÓDIO, vi com olhos furtivos,
Na sebe orvalhada e em pranto."

Marcellus Cattete Reis Dornelas

O GUIDOVAL QUE EU GOSTO É ESTE MESMO, MOLEQUE, MANEIRO, MINEIRO ... - página 15

"Uma cerveja no Xiquitim,
uma língua frita no Tarciso,
uma pinguinha no Fiim,
muita conversa e pouco ciso."

Maria de Lourdes Ribeiral Vieira

O ENCONTRO - página 22

"O homem se afasta. E, agora, mais do que nunca, ela chora e se sente completamente só. "

Maria José Alves Vieira

VOCÊ OU INCERTEZA - página 16

"Quase louca me deixa, me domina
Tua boca rosada"

Marta Ribeiral

A VOZ DO VENTO - página 33

"Voz confortante
Que sussurra
Surpresas,
Alegrias. "

Neuza Maria de Oliveira Bandeira

A SECA - página 14

" O solo afastava-se um do outro, como a vida é separada da morte,"

Odilon Reis

Soneto para o Dé - PÁGINA 23

"Um consolo do céu se emana
E genuflexo recebo a graça
De ser filho de SANT'ANA amada. "

Sueli Vieira Gomes

O QUE FAZER ? - página 32

" É até pecado, mas neste dia rezei para que a missa acabasse."

Túlio Barbosa

DESTINOS - página 37

" Novo cigarro. Apalpa os bolsos e falta-lhe fósforo. Ameaça atirá-lo ao chão..."

Wilton Franco

SERRA DA BOA VISTA : O Princípio e o Fim - página 27

" Serra da Boa Vista é uma espécie de mundo inconsciente, com a sua ramagem intrincada, suas orquídeas exóticas e a quase impossibilidade de se locomover por todo a sua extensão, devido a abismos inesperados que surgem como por encanto."

 

 

E ainda do guidovalense por adoção MARCUS CREMONESE tem o poema :

 

DE COMO EU AMO UMA CIDADE

Marcus Cremonese para Terezinha M. Reis

 

É a cidade que repousa com sua história
desde a "curva da morte" - assim a chamo
pois toda vez que por lá passo de partida
parece que morro - até o "Vai-e-Volta".
Pelo outro lado, vai da "Santa Cruz"
Até o fim da "rua do Campo".
Nada de coordenadas geográficas.
Guidoval dispensa termos exatos
quando dela se fala, porque a poesia
não tem medidas.
E Guidoval é poesia pura.
É uma cidadezinha tão grande
que cabe inteirinha
dentro do meu coração.
E só os que têm coração grande
têm a felicidade de amar a Guidoval.

Um rio velho caminha sonolento
as suas águas escuras.
Parece que nesta época ele veste luto
por todos aqueles que não sabem
o que é Guidoval ou não sabem
amar Guidoval.
Cedinho o sol acorda e, sempre de bom humor,
lava o rosto no orvalho dos canaviais
e em seguida se enxuga na enorme toalha azul de céu.
O dia já está de pé e Guidoval
não tem hora certa para fazer música.
Cedo, cedo, já começa a sinfonia
dos carros-de-bois, com seus gemidos
tão doces que fazem corar de vergonha
qualquer Stradivarius.

As ruas logo se povoam de crianças descalças
- nada mais humano que crianças descalças -
que vão à escola, bornal a tiracolo.
Nada de apitos e sirenes que servem somente
para acordar o dia de sobressalto.
( As cidades grandes cismaram
que o dia precisa de despertador ) .
As lavadeiras vão à cachoeira
e ali o dia entorna cristalino
enquanto as crianças, brincando nas pedras,
desfrutam, os mistérios
da vida simples, dos bambuais cambaleantes.


Lá na roça - uma espécie de Olimpo
de país subdesenvolvido -
habitam os heróis, que com seu
trabalho honesto e continuado
compõem o quadro do progresso.
Ali tudo é paz em meio à guerra
para viver. Mas ali o homem tem mais alma.

Guidoval é um coração tão grande
que tem artérias e veias; estas estradas
Levam o seu sangue a outras terras
e trazem os seus filhos distantes
ávidos de chegada.
Guidoval é coração.

A melhor maneira de um povo
sentir a sua cidade, de viver a sua cidade,
é saber por onde anda.
As ruas têm seus nomes
mas o carinho do povo
lhes põe apelidos. Nada mais familiar
e expontâneo que o apelido.
O povo batizou suas ruas.
Rua do Campo, Fundão , Vai-e-Volta,
Rua do Alto ... um compêndio de história
e poesia que o povo palmilha
indiferente às imposições da História.
A vida acontece. A história é criada.
O povo acontece espontaneidade em Guidoval.


É meio-dia e a igreja anuncia
a outra etapa, que será pouco diferente da primeira.
Guidoval não se assusta com a Vida.
Tudo é movimento calmo nas ruas
e seus tipos populares são documento importante
e cartão de visitas, que deixam nos corações
memórias mais vivas que folhetos turísticos.
O preto-velho "Toniquinho" sorri seu sorriso
de criança e tem sempre um cumprimento amigo.
A flauta do "Frenderracha" não se cansa
de falar de amor às mocinhas de fora.
Tudo é sentido, é válido, é autêntico.
Até aquela velhinha que esmola a vida
e cuja cegueira não atingiu o coração.
Os tipos populares são pedacinhos
da história de Guidoval.


Sem muito alarde, o dia começa
a querer descansar.
Seu trabalho foi grande, foi árduo
e amanhã ele tem que estar de pé outra vez.
Enxada às costas, o lavrador
deixa no ar um rastro de fumaça
da palha e do fumo
que ele mesmo plantou.
É a forma sublime de mandar ao céu
o fruto do seu trabalho.
Lá vai ele para a sua casinha tosca
repousar uma noite de esperança.

O "Fundão" se enche de formas e cores.
Tudo é presença e simplicidade.
As meninas vêm em busca de amor
e trazem para dar, sorrisos de amor.
Se tem festa, Guidoval é festa.
A igreja abriga no seu seio
todo esse povo que não se esquece de Deus.
Enquanto isso a bandinha lá fora
suspira dobrados reluzentes.
A banda é outra marca eterna
dessa cidade encantada.
Do mais moleque trompete
ao sisudo contrabaixo, tudo pulsa
e respira como um só coração.
E a música congrega gerações em busca
de um mesmo fim. Mas se a morte rouba
um de seus filhos, todos choram
a perda do irmão que se foi.

A noite, da mesma forma que chegou,
vai saindo de mansinho à medida
que as meninas vão deixando o "Fundão".
Lá pelas dez tudo é repouso, tudo ressona
com a calma dos bemaventurados.
Restam lá fora postes cochilando
uma luz amarelada, uma vigilância
de árvores imóveis, um silêncio
gostosamente calado. E eu nunca dormir porque tenho
um dever. Eu resto andando e pensando e rezando baixinho :
Dorme, meu Guidoval-criança, dorme nos braços
De sua mãe Sant`Ana ...

Guidoval, 25.7.67

 

A produção gráfica foi elaborado pelo Jornalista Walter Serrano e o livro foi distribuído gratuitamente aos munícipes.