Guidovalense     de     estirpe

 

NÃO LI E NÃO GOSTEI. Explico.

 

Toca o telefone. Atendo. É a minha irmã Zezé indignada com o fax que acabara de receber de Guidoval. Nele, um escrito infame, desairoso e inverídico sobre o Renato Moreira da Silva. O folhetim, não se sabe a que propósito, difama e denigre um verdadeiro cidadão guidovalense. Conheço o

 

Renato, Delegado, Renatinho desde quando eu ainda era criança. Primeiro como jogador de futebol e mais tarde técnico de nosso glorioso Cruzeiro Futebol Clube, depois em 1.961, como jornalista e repórter do jornal "A Voz de Guidoval".

No início da década de 70 produtor, dramaturgo, diretor e ator de diversas peças teatrais encenadas em nossa cidade.

 

Num país onde poucos conseguem se alfabetizar, Renatinho tem curso superior, é economista. Este conhecimento lhe permitiu ser professor no Ginásio de Guidoval e na Faculdade de Visconde do Rio Branco.

Desde 1.977, mesmo com sacrifícios, dirige o SACA-ROLHA, jornal com maior tempo de vida e sobrevida de nosso município.

 

O verdadeiro caráter do Renatinho está registrado nas páginas do SACA-ROLHA através de campanhas institucionais reivindicando o Colégio de 2º grau , EMATER, asfalto Guidoval-Ubá, denunciando sempre a poluição do Chopotó, defendendo o indefeso e humilde Berto de Paula espancado por alguma besta humana.

 

Pode-se também ver, no jornal, o espírito iluminado de Renato Moreira da Silva liberando espaço a nossos poetas e escritores, promovendo concurso literário, valorizando nossos ícones culturais como o Maestro Osvaldo José de Barros (Sô Tute) ou a Profª Carmem Cattete Reis Dornelas ou destacando nossos baluartes morais como a parteira Maria Leopoldo ou mesmo apoiando movimentos como a Rua do Lazer e o Festival de Batidas .

 

É verdade que em Guidoval, realmente, aportam-se muitos pára-quedistas. Eu mesmo conheço vários. Não é este o caso do meu amigo Renatinho, um guidovalense nato.

 

Entretanto, o fato de nossa cidade abrigar tão díspares cidadãos, sabe vindos lá de onde; é o que a torna atraente e cativante, esta babel hospitaleira, merecedora de elogios até do grande escritor Lúcio Cardoso.

 

Só um guidovalense da gema pode entender o que é alimentar-se de idealismo  e sonhos, contentar-se com as homeopáticas doses de honradez, preferir a pobreza digna ao invés de migalhas do fausto perdulário e bajulatório.

Renatinho poderia até estar no bem bom, pendurado num emprego na prefeitura, amparado por decisão judicial. Não quis. Ou então continuar lecionando no ginásio de nossa cidade se submisso fosse, ao poder fugaz, fato muito comum a alguns eternos puxa-sacos de plantão. Também não quis. A sua liberdade e independência não têm preço. É autêntico, com opinião própria e um só compromisso : a consciência tranqüila.

 

Daqui a cem anos quando de nós só o pó restar, tenho certeza que sobreviverá a mais linda canção guidovalense, a minha canção do exílio, música que eu considero como o Hino do Guidovalense Ausente, feita pelo fértil compositor Renatinho, cuja letra transcrevo abaixo:

"Guidoval eu vou te deixar  / E lá de longe, em ti eu vou pensar. /

Se é preciso, o que eu posso fazer,/ O destino assim quis, /Agora tenho que sofrer. /

Minha querida, sei tu és muito boa, / Mas eu vou não é à toa, /

Eu preciso melhorar. / Se Deus quiser, daqui uns anos eu voltarei, /

Arrumarei um grande amor / E só aqui eu viverei. "

 

Ao Renatinho a minha irrestrita solidariedade. O amigo Ildefonso (Dé) Vieira